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  23:09

Como as redes sociais e o capitalismo estão moldando nossos desejos de consumo

Tenho certeza de que você já comprou ou quis comprar algo só porque viu uma propaganda na internet ou algum influenciador usando. Não queria se sentir de fora, queria pertencer a alguma tendência, algum grupo ou o que quer que seja. Você não é a única pessoa que já se sentiu assim e, convenhamos, isso se torna mais “normal” a cada dia que passa. E hoje vamos bater um papo sobre consumo e sobre como as redes sociais estão nos fazendo ser mais consumistas.

Olá, Vanguardistas! Estou de volta, e hoje para falar sobre um tema muito atual e que se faz mais necessário a cada dia que passa. Para os que não sabem, quem vos fala é Sabrina. Sou estudante de Design de Moda e tenho um canal no YouTube onde também falo sobre assuntos relacionados ao mundo fashion — dá uma passada lá depois. Agora vamos ao assunto.

História do consumo 

Você já se perguntou quando começamos a ser tão consumistas? Quando chegamos nesse ponto? Onde tudo que vemos já queremos comprar, mesmo que seja fútil? Posso te afirmar que nem sempre foi assim, e agora vou te dizer como tudo isso começou.

Bom, desde o surgimento dos seres humanos, eles precisaram consumir. Afinal, o consumo está atrelado à existência humana — não conseguimos viver sem consumir. O ponto é que, no início, os seres humanos consumiam por pura necessidade: caçavam para se nutrir, faziam roupas de couro para se proteger do frio, e até mesmo quando surgiu o escambo (quando duas civilizações ou grupos de territórios diferentes trocavam algum produto que tinham por outro que precisavam), esse consumo era para suprir alguma necessidade que tinham.

Os tempos foram passando, o ser humano evoluindo, e o que antes era só por necessidade se tornou por status, para demonstrar poder, posição social. As tendências surgiram, não só na moda. Todos queriam parecer ricos, queriam ter poder. A elite ditava, os outros seguiam, e quem não tinha dinheiro ficava para trás.

Mas foi só na Revolução Industrial que grandes mudanças aconteceram. Com as máquinas, ficou muito mais fácil fazer mais produtos. A moda é um exemplo disso: com a criação da máquina de costura, o surgimento da fabricação em série e o prêt-à-porter (pronto para vestir), uma quantidade maior de peças era feita e as pessoas só chegavam às lojas e compravam, em vez de ter que esperar dias para as roupas serem feitas.

Uma das primeiras máquinas de costura, criada por Barthelemy Thimonnier

E junto com a Revolução Industrial, surge uma nova forma de produzir, que depois seria nomeada como “obsolescência programada”, que nada mais é do que diminuir a vida útil dos produtos de propósito para fazer com que as pessoas descartem mais rápido e comprem novos produtos.

E se antes as pessoas consumiam por pura necessidade e davam preferência a produtos bons, que durassem mais, depois de todas essas “evoluções” das indústrias, elas se sentiam tentadas — e obrigadas — a consumir mais, para sempre estar por dentro das novidades e não ficar com produtos velhos, desgastados e obsoletos.

Era Digital

Já sabemos que a criação da internet foi uma verdadeira revolução. Com sites de marcas e propagandas nas redes sociais, o consumo de coisas só cresceu. Mas vamos focar mais na atualidade e em como está nossa relação hoje em dia com as redes sociais.

Em 2020, com a pandemia, vimos um crescimento exponencial do TikTok, uma rede social de vídeos que prometia conectar as pessoas mesmo elas não podendo se encontrar ou ter nenhum contato físico. Isso realmente aconteceu, mas, juntamente disso, os jovens transformaram a forma de consumir.

Começaram a surgir tendências semanalmente, sempre um novo “core”, um novo “aesthetic” (cottagecore, balletcore, indie kid aesthetic etc.), e obviamente todos queriam seguir. Então recorriam à Shein, uma loja de moda rápida que, assim como o TikTok, também teve um crescimento exponencial, com sua forma rápida de produzir e entregar e seus preços superacessíveis. Era tão barato que as pessoas nem precisavam pensar — apenas compravam, e depois deixavam de lado essas roupas e pulavam para a próxima tendência.

Sapatilhas e polainas, característicos do balé, em desfile da Miu Miu (2022). Levando a
estética balletcore para as passarelas

E essas tendências não aconteceram só no vestuário. Afinal, moda não é só sobre roupas. Tivemos uma febre com o mundo da beleza, onde sempre surgiam novos estilos de maquiagem e cabelo, e todo mundo queria usar. Tivemos a febre do copo Stanley, que todos queriam comprar e faziam (e fazem) coleções desse copo.

E, mais recentemente, tivemos o crescimento de um bonequinho chamado Labubu, que todo mundo tinha — e quem ainda não tinha, queria comprar. E tudo isso se relaciona a sentimentos: o de pertencimento e o de escassez.

Labubus, que ganharam muita visibilidade em 2025

Compras e sentimentos 

Bom, todo ser humano possui uma sede de pertencimento. Quer pertencer a algum grupo, seja na escola, na faculdade, no trabalho — e nas redes sociais não é diferente. E, além disso, há também o sentimento de escassez que as redes sociais, os criadores de conteúdo e as marcas passam com frases como “compre agora, antes que acabe” ou “são as últimas unidades, corra antes que seja tarde”.

E assim, o consumidor se sente inclinado a comprar esse produto, mesmo que não precise ou que nem tenha gostado tanto assim. Afinal, ele quer pertencer — e para pertencer, precisa comprar antes que acabe.

E isso sempre aconteceu. Essas propagandas existem há tempos, e os consumidores sempre tiveram essas vontades e necessidades. A real questão é que isso está acontecendo cada vez mais rápido. Pessoas compram por impulso, influenciadas pelas marcas e principalmente pelos criadores de conteúdo das redes sociais, que mostram uma vida perfeita e tudo que eles têm para conseguir aquela vida perfeita. E quem vê de fora acredita e quer alcançar aquilo também — então começam a comprar tudo que esses criadores de conteúdo indicam.

Assim, fazem compras por impulso, sem uma necessidade real, apenas porque querem entrar na “moda” e ter o que os outros têm. Você já se sentiu assim? Já fez algo parecido?

Já comprou algo por impulso apenas porque viu muita gente comprando e falando sobre e queria ter também?

Consciência 

Todos nós já passamos por algum momento assim. E não tem nada de errado em querer acompanhar tendências ou se inspirar em alguém que admiramos. A questão está quando deixamos de refletir sobre o porquê de estarmos consumindo.

Comprar algo de vez em quando porque achou bonito ou gostou não é o problema. O problema é quando isso começa a ser algo constante. É preciso parar, respirar e se perguntar: Eu realmente preciso disso? Isso faz parte do meu estilo? É algo que eu quero de verdade? Às vezes, essa necessidade de comprar algo guarda outras coisas por trás — e a vontade de pertencer é uma delas.

Ser mais consciente não significa parar de consumir, mas sim consumir com intenção e com a certeza de que vai comprar algo porque realmente quer — não por influência de outros.

Conhecer seus gostos, seu estilo, entender o que você realmente precisa, evitar compras por impulso e pensar no impacto que cada escolha tem no mundo (e no seu bolso também).

As redes sociais não vão parar de tentar nos influenciar, mas a gente pode aprender a filtrar o que realmente importa. O caminho não é sair do Instagram ou nunca mais comprar nada, e sim criar uma relação mais saudável com o consumo. Uma relação onde você escolhe — e não é escolhido.

Então, da próxima vez que sentir aquela vontade de comprar algo só porque viu em algum lugar, respira e se pergunta: isso é pra mim, ou é só mais uma tentativa de pertencer?

 

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