
A operação da Polícia Federal em Sigefredo Pacheco, que flagrou um político guardando e distribuindo cestas básicas na própria casa, sem ter sido ele quem comprou com seu dinheiro, pode, e deve, ser um sinal de alerta para vários prefeitos do Piauí [do Nordeste e do Brasil] que fazem uso abusivo do poder financeiro e político como se o erário fosse extensão de suas campanhas políticas.
Se a PF resolveu agir em Sigefredo, que seja só o começo. Porque o que se vê hoje em muitas cidades piauienses [nordestinas, brasileiras] é uma verdadeira farra com o dinheiro público, disfarçada de “ação social”, “evento cultural” ou “festa tradicional”, enquanto o povo enfrenta filas em hospitais, escolas sem estrutura e comunidades inteiras sem água ou transporte. E os prefeitos promovendo shows milionários, vaidade política e autopromoção descarada.
Quer exemplo? Em Campo Maior, o prefeito João Félix gasta fortunas com eventos musicais e ainda aproveita para divulgar não apenas seu nome, mas também o do filho, Dogim Félix, um nome que aparece mais que do próprio cantor. É festa com dinheiro do povo e palanque para a família inteira, literalmente. Tem até área vip. Por Campo Maior falta o básico. Até a coleta do lixo só se for para despejar dentro de cemitério.
Em Piripiri, a disputa virou outra: a prefeita Jôve Oliveira e o deputado Marden Menezes parecem travar uma guerra para ver quem promove a festa mais barulhenta. Em uma, Jôve sobe no palco e até beija o cantor. Na outra, Marden discursa como se já estivesse em campanha. Tudo isso com patrocínio da prefeitura ou de órgãos públicos do estado. Ou seja, com o dinheiro público. Por Piripiri, os profissionais da saúde vivem sem receber seus salários, as ruas cheias de mato e lama, entre outras mazelas.
Na cidade de Cocal, uma carreata parou a cidade para a entrega duas ambulâncias. Um ato que deveria ser visto como básico na gestão pública virou espetáculo. Curiosamente, a mesma gestão que promoveu esse “evento” já gastou milhares de reais em festas, enquanto o município ainda enfrenta sérios problemas de infraestrutura e saúde.
E o que dizer de Altos? O prefeito Maxwell da Mariinha não esconde a ostentação. Traz bandas de renome até para comemorar o próprio aniversário. Alguém acredita que ele pagou do próprio bolso? Ou foi mais um gasto empurrado para a conta da prefeitura, como tantas outras despesas feitas “em nome da cultura”?
A verdade é que, em muitos municípios, os shows viraram os novos showmícios, com telões exibindo mais o rosto do prefeito do que os artistas, com locutores repetindo incansavelmente os nomes dos políticos, e com discursos disfarçados de agradecimentos. Tudo isso em ano pré ou eleitoral.
E os órgãos de controle? Silenciosos. É preciso que o Ministério Público, o Tribunal de Contas e, sim, a Polícia Federal comecem a olhar para essas “festas públicas”, distribuição de cestas, aniversários e seja lá o que for, com o rigor que a lei exige. O caso de Sigefredo Pacheco é apenas a ponta do iceberg. Lá, a PF foi porque um político estava guardando cestas básicas, compradas com dinheiro do povo, dentro de casa, distribuindo como bem entendia. Mas tem casos até piores. E neste caso de Sigiefredo, ainda se pode dizer que "pelo menos estava dando comida ao povo". Mas legamente ele, e nenhum outro, pode fazer dessa forma.
Que isso sirva de recado: o tempo da impunidade precisa acabar. Dinheiro público tem destino certo, e não é campanha antecipada, nem palco para vaidades.
Que a Polícia Federal continue batendo à porta de quem abusa do poder. Porque, do jeito que está, parece que a festa é só para os políticos e a conta, como sempre, para o povo.
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