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  18:47

 Fonte: https://nossosvizinhosilustres.blogspot.com/2017/07/assis-chateaubriand.html

- Vamos, Assis Chateaubriand, leia a frase!

- A esco-cola é mi-minha segun-gunda ca-casa!

- O que é isso, menino! Você já tem 10 anos e ainda não resolveu esse problema de gagueira. Leia novamente.

- A esco-cola é mi-minha segun-gunda ca-casa!

Ele era gago e feio. Gago, feio e raquítico. Ele era gago, feio, raquítico e baixinho. Assis Chateaubriand foi tudo isso. Mas isso tudo não o impediu de ser um dos mais importantes comunicadores do século 20 no Brasil. Filho de família abastada, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo nasceu em dia de santo (São Francisco) e mais tarde faria o diabo para criar seu império de comunicação. O nome Chateaubriand era homenagem a um intelectual francês: vontade do avô que talvez quisesse o neto poeta e pensador... O menino preferiu ser jornalista!

Havia começado, porém, com o curso de Direito, sem saber direito por quê! Abandonou de vez a ideia de advocacia e deu de escrever textos corrosivos incomodando os figurões da sua cidadezinha, Umbuzeiro, na Paraíba. O pai de Chatô era mais modesto: foi ficando juiz municipal de Umbuzeiro, não quis deputar-se federalmente pela Paraíba e acabou por criar vacas leiteiras pelo sertão adentro.

Mas Chatô, não! Se tivesse feito o curso de jornalismo, teria faltado a todas as aulas de Ética. Chantagens e mentiras eram práticas habituais para Chatô angariar poder e influência entre as empresas e os poderosos, que o digam Getúlio Vargas, Juscelino Kubitchek e Eurico Gaspar Dutra. Empréstimos eram com ele; pagamentos nem tanto. Assim se criaram a revista O Cruzeiro e os Diários Associados: naquela época a maior rede de comunicação da história do Brasil estava nas mãos de um homem só.

O poderoso chefão multimídia

Chateaubriand continuava gago, feio, raquítico e baixinho, porém o poderoso chefão das mídias tornou-se jornalista de renome, mecenas amado, mercenário temido, astuto político ao estilo nacional, megaempresário da comunicação e um dos brasileiros mais importantes do século passado. De quebra, Chateaubriand ainda se elegeu deputado, senador, membro da Academia Brasileira de Letras e embaixador e Londres. E só para ter uma ideia do poderio de Chatô, o magnata das comunicações construiu o maior conglomerado midiático da América Latina. O paraibano era dono de uma rede de editoras e gráficas modernas, diversas gravadoras de disco, agências de notícia e empresas de publicidade, vinte e duas estações de TV, vinte e cinco emissoras de rádio espalhadas pelo país, vinte e oito revistas – semanais e mensais – e cerca de cem jornais de circulação regional e nacional.

Como todo nababo, Chatô também amou as artes, as mulheres e o poder – não necessariamente nessa ordem. As mulheres certamente foram várias e custaram-lhe alguns meses e muitos contos de réis. Poder, ele tinha o poder da midiocracia nacional e ainda criou a primeira emissora brasileira de televisão, a TV Tupi. Nas artes ajudou na fundação do Museu de Arte de São Paulo, criando amizade com alguns escritores (Graça Aranha, Millôr Ferandes) e inimizade com outros (Rui Barbosa, Rubem Braga).

Os fins justificam os meios... de comunicação

Assim Chatô construiu seu império de comunicação/intimidação pela mídia afora. Mas, como todos sabem, todos os impérios caem um dia. O início do fim do poder de Chatô se deu na década de 60, por meio de dívidas para manter seu império altaneiro. E como todo mundo morre um dia, um dia Chatô foi dormir com trombose; quando acordou já estava morto. A notícia se espalhou rapidamente. Chateaubriand, que amava a comunicação, adorou ser manchete de seus jornais...

- A esco-cola é mi-minha se-gun-gunda ca-casa!

- Vamos, mais uma vez, Assiszinho, leia a frase até não errar mais.

- ...

- Vamos Chateaubriand, estou esperando!

- ...Vá se lascar, professora de merda!


Pronto: estava curada a gagueira.

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