
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse em entrevista exclusiva ao programa Estúdio i, nesta segunda-feira (11), que a reunião prevista para acontecer na próxima quarta-feira (13) com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, para discutir o tarifaço, foi cancelada após atuação de "forças de extrema direita" que atuam nos Estados Unidos.
"A militância antidiplomática dessas forças de extrema direita que atuam junto à Casa Branca teve conhecimento da minha fala, agiu junto a alguns assessores, e a reunião virtual que seria na quarta-feira foi desmarcada", disse Haddad.
Segundo Haddad, no dia 20 de julho, o presidente Lula pediu para ele "entrar no circuito" e tentar marcar uma reunião com Bessent, depois de saber que o ministro já havia se encontrado com o secretário do Tesouro em maio, antes de Trump anunciar as tarifas de 50% para os produtos brasileiros. Naquela ocasião, de acordo com Haddad, o encontro foi produtivo.
As tratativas para uma nova reunião começaram no dia 21 de julho, segundo o ministro, mas não foram adiante. "Aguardamos, até a semana passada, o e-mail marcando o dia e a hora".
O que chegou, disse Haddad, foi um e-mail com o cancelamento do encontro previsto inicialmente para quarta-feira.
"Argumentaram falta de agenda. Uma situação bem inusitada. O que fica claro para nós é que a questão comercial não está em foco", afirmou o ministro.
Em um post na rede social X no dia 30 de julho, portanto, depois do início das tratativas para o encontro com Haddad, Bessent escreveu que o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes é "responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam direitos humanos e processos politizados, inclusive contra o ex-presidente Jair Bolsonaro".
'Não há coincidência'
Segundo Haddad, poucos dias depois que ele anunciou seu encontro com Bessent, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) falou publicamente que inibiria qualquer contato entre os governos brasileiro e americano. O ministro acredita que isso demonstra a interferência para impedir a reunião.
"Eduardo publicamente deu uma entrevista [dizendo] que ia procurar inibir esse tipo de contato entre os dois governos. E, depois disso, aconteceu o episódio [do cancelamento da reunião]. Depois da entrevista dele, de que agiria contra os interesses do país, não há como não relacionar uma coisa à outra. Não há coincidência nesse tipo de coisa", disse Haddad.
O ministro disse que ainda tentou remarcar o encontro junto à assessoria do secretário do Tesouro, mas não teve sucesso.
'Um pouco ingênua', diz Haddad sobre fala de Tarcísio
O ministro também comentou uma declaração do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que cobrou uma ligação do presidente Lula a Donald Trump. Para Haddad, a afirmação é um 'pouco ingênua'.
Em evento do agronegócio nesta manhã, Tarcísio afirmou que reuniões entre os dois países não são suficientes. “Quantas vezes vamos ter reuniões de alto nível no Departamento de Estado? Quantas vezes vamos ter a ligação do presidente brasileiro com o presidente americano? É isso que vai fazer a diferença.", disse o governador.
"A afirmação do governador é no mínimo um pouco ingênua. Talvez uma pessoa que ainda não tenha traquejo das Relações Internacionais. Não funciona assim. Quando dois chefes de Estado se falam, existe preparação, prévia para que a reunião, o telefonema (...) resulte na melhor condição de negociação para os dois países", disse o ministro.
Resposta ao tarifaço
Haddad (PT) também afirmou que a Medida Provisória (MP) criada pelo governo Lula em resposta ao tarifaço dos Estados Unidos, imposto pelo presidente Donald Trump, prevê três linhas de atuação junto às empresas brasileiras: financiamento, compras públicas e uma parte que envolve análise de impostos.
Ao ser questionado sobre produtos produzidos especificamente para o mercado norte-americano, o ministro afirmou:
"Isso [exportações de produtos focados aos EUA] a MP trata de três formas diferentes: as linhas de financiamento; tem a questão tributária, que vai receber um tratamento específico; e estamos mexendo também com compras governamentais", disse.
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