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  10:21

Na festa de Santo Antônio do Campo Maior (PI)

O que aconteceria se Santo Antônio aproveitasse o mês de junho para tirar férias em Campo Maior (PI) em pleno festejo local!?

 Fonte: Google Imagens

De 31 de maio a 13 de junho Campo Maior (PI) realiza a festa religiosa a Santo Antônio. Por toda a cidade e região dos carnaubais, os festejos do santo casamenteiro impulsionam a fé sincera do povo nordestino e a ganância oportunista de políticos de todo o estado.

É festa e a cidade agita-se e enfeita-se todo para o grande evento: na abertura dos festejos do santo católico acontece a procissão com a imagem, a bandeira e o mastro de Santo Antônio a conduzir o povo por alguns quilômetros de fé e força. A santa procissão inicia-se às portas do colégio Patronato Nossa Senhora de Lourdes e segue até a Catedral, no centro da cidade. Mulheres, gays e homens seguram o fetiche do santo na crença de encontrar um bom partido para casar, alcançado assim o milagre tão sonhado.

Segue a procissão

E nessas horas de procissão, para pegar no mastro do santo (não quero dizer pau, é claro!), para pegar no mastro sacrossanto vale tudo: começa um empurra-empurra de todos os lados; ao longe se grita “sai da frente, por favor”; uma menina linda reza forte para casar em breve; alguém pisa numa unha encravada de dor; caras feias acendem velas mundanas; um luterano distante prefere volta-se unicamente para Jesus e segue sua vida; muita lágrima e suor seguem a procissão; uma mulher joga praga nas encalhadas locais que impedem a multidão de andar; algumas pessoas tiram lascas do pau santo para fazer chá (vale tudo no amor e na seca!), outras pagam promessas, entre essas e outras manifestações de fé e força... Aí, depois da graça alcançada, após encontrarem o amor cúpido do cupido católico (a promessa é achar o amor verdadeiro e casar com ele, presumo), algumas pessoas, depois de certo tempo, seguem até a cidade de Altos (PI) e pedem a São José que corrija seu cônjuge errante.

Fé e festa

Santo Antônio aproveita o mês de junho e tira férias. Pede a Deus para visitar os festejos de Campo Maior (PI). Deus permite, mas adverte ao taumaturgo: “Cuidado, Antônio. E assim, Santo Antônio chega à cidade dos Heróis do Jenipapo, suja os santos pés no açude sujo de pecado ecológico, esbarra num político distribuindo dinheiro, mas surpreende-se com a fé feérica do povo de Deus e com as orações a embalar toda a cidade. Santo Antônio pede a todos mais fé em Deus e menos amém aos patrocinadores e medalhões da cidadezinha. O santo reza pelas barraquinhas que devem ter passado por vistoria elétrica e sanitária para funcionar em um evento deste porte. Um extintor de incêndio cairia bem nestas barracas de meu Deus!

O negócio é comer, rezar e amar. Muitos turistas vêm para as festas públicas da cidade e contribuem para a balança comercial favorável dos vendedores locais. Graças a Deus! O Espaço Cultural promove festas pagas com dinheiro público para aqueles que preferem o circo anual ao pão nosso de cada dia.  Para nossa vergonha regional, mendigos brotam do chão (ou de nossos olhos cegos) e esperam fora da catedral pelo chamado de Deus, porque a piedade humana não cabe na igreja cheia de gentes de bem. Não cabe, pois em meio à festa religiosa, outra fé – a do dinheiro – domina a alma de alguns cidadãos em meio às barracas de tentação gastronômicas.

Festa e fé

Seu Laurindo, nos seus 80 anos campo-maiorenses, viveu todas as fases de sua vida distribuídas nas treze noites dos festejos de Santo Antônio. Na infância, a mãe de Laurindo obrigava-o a assistir às trezenas, quando o menino só queria brincar no parque de diversões. Na adolescência, o jovem aproveitava as trezenas para marcar encontros com as moças de família entre as barracas dos festejos, com todo o cuidado para que os familiares da mocinha não vissem nada (Laurindo só casou com uma moça depois que ela pegou no pau... De Santo Antonio, é claro!). Quando adulto, depois da oração da igreja, Laurindo dividia-se entre saborear os pratos regionais das barracas ou correr para os cabarés da rua Santo Antônio – de toda forma acabava comendo. Agora que velho, o velho Laurindo reza e passeia placidamente pelos festejos que o viram crescer e devir. Os netos e netas vivem agora as mesmas fases que ele percorreu um dia.

Os netos e netas vivem agora as mesmas fases que ele percorreu um dia. Laurindo agradece aos céus. Ele encontra seu velho amigo Santo Antônio que sorri e diz: “Ano que vem tem mais”.

Amém!

 

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