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  07:29

Campo Maior amanheceu nesta sexta-feira (25/07) com a informação de que “um homem pulou o muro de uma casa e foi morto a tiros por um policial”. A princípio, pode até parecer aquele velho clichê do justiceiro que conseguiu cancelar mais um CPF, mas, ao longo do dia, surgiram várias versões. O fato levanta muitas perguntas e merece respostas.

O que não muda é que o motorista Francisco Werick Silva Alves, de 19 anos, foi morto a tiros na madrugada desta sexta-feira, na rua Alberto Bona Neto, que liga os bairros Fripisa e Santa Cruz. O autor dos disparos foi o policial militar Hesron Gonçalves de Sousa e Silva, lotado no Batalhão Especial de Policiamento do Interior (BEPI), de Teresina. Segundo vizinhos, foram ouvidos ao menos quatro disparos de arma de fogo.

AOS FATOS

Primeiro: não se tratou de uma invasão para roubo, como pode parecer à primeira vista. A vítima, segundo familiares ouvidos pelo Em Foco, já estava acostumada a entrar na residência, pois tinha, ou teve, um relacionamento amoroso com a dona da casa — cujo nome não será citado nesta reportagem por, segundo a polícia, ela não ser suspeita de qualquer envolvimento com o crime ou com a investigação.

Segundo: a tragédia — para a família da vítima — teria sido motivada por uma disputa amorosa, ou seja, um motivo fútil, em que vítima e acusado cortejavam a mesma mulher. Não se tratou de um crime por violação de domicílio, roubo qualificado ou ameaças que justifiquem legítima defesa. Ou seja, um crime não teria gerado outro crime. Não foi esse o caso.

VERSÃO OFICIAL DA POLÍCIA, COM BASE NO RELATO DA MULHER

A versão inicialmente divulgada pela Polícia Militar de Campo Maior, com base no relato da mulher, foi de que ela “estava com o namorado [o policial militar] dentro de casa, e Werick teria tentado invadir a residência. O policial saiu de dentro da casa e confrontou a vítima, que veio a óbito na parte dos fundos do imóvel”.

A frente da casa não é murada, tendo acesso direto à rua. O muro é fechado apenas no fundo da residência. Logo, a versão de que a vítima "pulou o muro" levanta questionamentos. A informação é de que ele teria pulado para passar da casa dele, que fica ao lado, para a parte dos fundos da casa da mulher, fora da visão da rua. Mas era necessário fazer isso?

Fontes policiais, no entanto, afirmam que a vítima apenas bateu numa janela da casa da mulher e não chegaram a mencionar que ele tenha pulado o muro.

VERSÕES DE AMIGOS NAS REDES SOCIAIS

Após a publicação da notícia, inclusive pelo Campo Maior Em Foco, vários comentários surgiram contestando a versão inicial. Entre eles:

Que o rapaz já estaria dentro da casa da mulher, e o policial teria chegado de surpresa, flagrado a mulher com Werick e efetuado os disparos;

Que a vítima tinha o hábito de visitar a mulher durante a madrugada e, desta vez, encontrou o policial militar;

Que a mulher já teria terminado o relacionamento com o PM ao descobrir que ele era casado, mas ele não aceitava o fim do relacionamento.

O CRIME E A CHEGADA DAS AUTORIDADES

Além dos boatos, há perguntas que precisam ser respondidas pelas autoridades, e o Em Foco já as encaminhou.

De acordo com o relatório da Polícia Militar de Campo Maior e fontes da própria PM ouvidas pela reportagem, após cometer o crime, Hesron acionou os colegas do BEPI de Teresina, em vez dos policiais do 15º Batalhão de Campo Maior. Fontes confirmaram ao Em Foco que Hesron “ligou para a viatura do BEPI [em Teresina], pedindo reforço, pois, segundo ele, havia mais pessoas tentando invadir a residência”.

Somente após a chegada da viatura do BEPI a Campo Maior — que supostamente foi prestar auxílio ao policial — é que a viatura da Força Tática de Campo Maior foi acionada, via Copom. Cerca de duas horas depois do crime. A morte teria ocorrido às 2h30, mas a PM local só foi acionada às 4h30.

O Em Foco fez duas perguntas ao comando-geral da Polícia Militar do Piauí, por meio da assessoria de imprensa, mas até a publicação desta matéria não obteve retorno:

Por que, em vez de acionar o BEPI em Teresina, o policial Hesron não ligou diretamente para o Batalhão de Campo Maior?

Quando os policiais do BEPI chegaram a Campo Maior, não poderiam ter dado voz de prisão ao colega e o conduzido à delegacia para audiência de custódia?

Segundo fontes da PM local, não é possível afirmar se, quando os policiais de Teresina chegaram ao local do crime, o suspeito ainda estava presente.

OUTRA PERGUNTA QUE SÓ A INVESTIGAÇÃO PODE RESPONDER

Como um policial armado, que supostamente estava sendo atacado — e por isso agiu em legítima defesa — não deu voz de prisão ao suposto agressor, não o dominou, não pediu reforço local, e apenas aguardou reforço de Teresina? Não há registro de que a vítima estivesse armada.

O certo é que as respostas oficiais devem demorar. A investigação seguirá seu curso sob o comando da Polícia Civil. Novas versões continuarão surgindo, e a verdade — ou parte dela — talvez nunca venha totalmente à tona.

Uma coisa, no entanto, dificilmente mudará: a dor de uma mãe que sofre pela perda do filho. Segundo vizinhos ouvidos pelo Em Foco, a mãe de Werick lutava para afastá-lo do relacionamento. De acordo com os relatos, Werick estava bebendo na noite do crime, chegou em casa e ouviu apelos da mãe para “se aquietar”. Ainda assim, saiu. Deixou o quarto com o ar-condicionado ligado, a porta aberta... e foi ao encontro da morte.

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